Passagem das horas
"Não sei sentir, não sei ser humano,
não sei conviver de dentro da minha alma triste,
com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, quotidiano, nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.
E fiquei tão triste,
como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda a gente.
Mas se para toda a gente isso foi normal e intuitivo,
para mim sempre foi a excepção, o choque, a válvula, o espasmo...
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim...
Não sei se sinto demais ou de menos...
Seja como for,
a vida de tão interessante que é a todos os momentos,
a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas, de todas as sacadas e ir ser selvagem...
Entre árvores e esquecimentos."
Álvaro de Campos
YOLANDA BOTELHO
EU,YOLANDA
Este "meu" Desassossego...
Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensámos em fazer. Desdiz não só da perfeição externa, senão da perfeição interna; falha não só à regra do que deveria ser, senão à regra do que julgávamos que poderia ser. Somos ocos não só por dentro, senão também por fora, párias da antecipação e da promessa |
Fonte: "Livro do Desassossego" Fernando Pessoa |
Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida |
Fonte: "Livro do Desassossego Autor: Fernando Pessoa |

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